A cadeia de fornecedores de bens e serviços para a Indústria de Energia no Brasil é bem desenvolvida, com destaque para fornecedores de grande porte de equipamentos para a área de exploração e produção e refino. Já nas áreas de Gás Natural e Energias Renováreis, ainda há muito a fazer. Também na cadeia secundária de fornecedores (fornecedores de médio e pequeno porte) existem muitos gargalos e a Política de Conteúdo Nacional, embora com requisitos já mais abrandados desde a 14 a Rodada de Licitações da ANP provocou atraso no desenvolvimento desta cadeia . De modo geral, com o advento da Pandemia do Corona Virus, as encomendas escassearam e a crise sanitária irá retardar em muito o salto de competitividade que se faz necessário para que muitos provedores de bens e serviços atinjam a escala de Fornecedores Globais.
Podemos apontar como aspectos positivos e pontos a melhorar da Indústria Brasileira de Bens e Serviços, para a área de petróleo e gás os seguintes:
Pontos Positivos
Indústria de equipamentos pesados consolidada e diversificada para atender a projetos de Exploração e Produção e Refino. São exemplos neste segmento os equipamentos submarinos, válvulas de uso geral (exceto válvulas submarinas) caldeiraria pesada (fornos, caldeiras, trocadores de calor), tubos de uso geral e especiais até médio diâmetro, fabricação de equipamentos rotativos como bombas, compressores alternativos e ventiladores, estruturas metálicas, guindastes, toda a cadeia de equipamentos elétricos de qualquer porte (motores, geradores, equipamentos de subestações e de transmissão) e turbinas a vapor. A indústria eletrônica de Automação e Controle, também é bem atendida no Brasil porém o conteúdo importado ainda é alto.
Pontos a melhorar e gargalos
Para as famílias de equipamentos podemos citar: válvulas submarinas, válvulas para refinarias de uso especial, tubos de grande diâmetro para construção de gasodutos, caldeiraria com metalurgia especial (Cromo, Molibdênio Vanádio, mas a escala de demanda é pequena neste momento), compressores centrífugos de gás, CO2 e ar de grande vazão, turbinas a gás. É um desafio para a indústria brasileira como um todo a implantação dos conceitos da chamada Indústria 4.0 em suas diversas vertentes como a Manufatura Inteligente, Produtos e Serviços Inteligentes, Tratamento de Dados em Nuvem (Big Data), Trabalho Inteligente e Cadeia de Suprimento Inteligente. As empresas mais avançadas na aplicação da Indústria 4.0 são as empresas de grande porte e a maioria ainda está na fase de implantação da manufatura inteligente. Os objetivos principais dos empresários com a implantação dos conceitos da Indústria 4.0 são: reduzir custos operacionais, aumentar a produtividade e aumentar a qualidade de processos. Ainda existem muitas iniciativas no sentido de implantar sistemas de automação como PLCs, SDCDs, Sistemas SCADA, MES e ERP.
O processo em direção a uma indústria mais moderna foi fortemente impactado pela Pandemia considerando-se os anos de 2020 e 2021. Não há abundancia de recursos para investimentos (que são exigidos para as modernizações) e, na visão da Confederação Brasileira da Indústria – CNI – o processo deverá ser retardado.
Cadeia de fornecedores de pequeno e médio porte – Cadeia Secundária
Esta cadeia de fornecedores apresenta grandes oportunidades para fornecedores estrangeiros que queiram vir para o Brasil. Podemos citar como exemplos:
Forjarias – (esta operação é crítica para a indústria de válvulas no Brasil), fundições, fabricantes de “fittings” para tubulações de qualquer diâmetro em aços especiais, para a indústria de gás natural (polietileno), elementos de fixação, pequenos equipamentos.
Instrumentação – Pequenos sistemas locais para controle de processos controladores, sistemas de segurança e alarme e outros.
Peças metálicas forjadas para equipamentos sub-sea;
Fundições – é um caso parecido com o das forjarias. Temos poucas fundições no Brasil que trabalhem com peças customizadas para a indústria de petróleo e gás.
Indústria Naval e Offshore – Estaleiros
A indústria naval no Brasil já foi a quarta em importância no mundo nas décadas de 60 e 70. Nas décadas de 80 e 90 a indústria foi pulverizada por falta de encomendas, tendo ressurgido em 2003 por conta das encomendas da Petrobras.
As grandes exigências de Conteúdo Nacional, contribuíram para que as obras navais no Brasil se tornassem muito caras e todas as operadoras, a partir de 2010, optaram por construir suas embarcações na Asia ou afreta-las, mesmo pagando a multa de Conteúdo Nacional não cumprido.
Hoje existem vários estaleiros de médio e grande porte no Brasil à espera de parceiros internacionais para que possam voltar a produzir e tentar uma entrada no mercado global. Entretanto a competição no mercado internacional na era da pós Pandemia no que diz respeito á construção de cascos, será muito dificultada pela estagnação que essa indústria sofreu nos últimos cinco anos. A área de reparos navais pode ser uma alternativa a esses estraleiros.
Indústria Naval e Offshore – Módulos de plataformas
Nesse segmento o Brasil se sai melhor por uma herança do tempo dos grandes projetos de refino. Os módulos são obras que se assemelham em termos de construção, a sub sistemas usados em refinarias. O Brasil já demonstrou que é capaz de integrar um FPSO a preços internacionais e com prazos aceitáveis. Mas esse também é um campo para fornecedores estrangeiros que queiram operar no país sobretudo melhorando o expertise de engenharia e estimulando a indústria fornecedora de equipamentos e serviços de construção e montagem. Esse é um segmento da indústria que deve se beneficiar muito da introdução dos conceitos da Indústria 4.0 pois trata-se de uma área onde o Brasil demonstrou condições de competir internacionalmente.
Grandes empreiteiras ou integradores de Projeto – Main Contractors
Esta é uma área em que o Brasil está de fato carente. Quase a totalidade dos grandes “contractors” nacionais foram atingidos pela Operação Lava Jato e estão hoje proibidos de contratar com o Poder Público, por conseguinte com a Petrobras. Alguns aguardam um Acordo de Leniência para voltar ao Cadastro da Companhia mas esses processos são demorados. Temos assistido a entrada de alguns “contractors” estrangeiros no Brasil, que ganharam alguns contratos de vulto e estamos acompanhando as obras para avaliar a performance dessas empresas de modo mais apurado.
Empresas de Projetos de Engenharia
Outro grande gargalo hoje no Brasil. Tanto para projetos conceituais, básicos e de detalhamento. Esta indústria já foi importante no país e sofreu muito nas décadas de 80 e início da de 90 com a inflação muito elevada. Ressurgiu depois, mas debilitada, com alguns projetos da Petrobras e agora, frente aos impactos da Operação Lava Jato que diminuiu a demanda da Companhia, praticamente desapareceu. É outro nicho importante para empresas estrangeiras que queiram vir para o Brasil ou mesmo se associar com as poucas empresas brasileiras restantes.
Aspectos gerais dos gargalos para os provedores de Bens e Serviços para a área de petróleo e gás do Brasil
Esses aspectos são os seguintes:
Planejamento e Gestão – Há espaço para melhorias no Planejamento e Gestão de grandes projetos. Nossos prazos ainda estão aquém das referências internacionais;
Gestão das inovações – É uma indústria que precisa melhorar o enfoque na inovação para alavancar competitividade; não há tradição de trabalhos conjuntos da indústria com Institutos de Tecnologia ou Universidades;
Gestão do Capital Humano – Temos excelentes Escolas Técnicas (Sistema Senai) e Universidades, mas falta pessoal experiente para trabalhar na Indústria; a crise de capital humano no Brasil na indústria de petróleo e gás, sobretudo na área de construção e montagem, não é de engenharia mas sim de supervisão no nível do chão de fábrica.
Falta de Engenharia Industrial – É um problema parecido com o que já discutimos acima para a área de Engenharia de Projetos. A engenharia de chão de fábrica, que permite soluções alternativas durante uma fabricação e permite enxergar outras concepções, é uma carência nas fábricas brasileiras. A introdução do Smart Manufacturing da Indústria 4.0 seria a solução, mas depende muito de investimentos e prazos exequíveis.
Acesso a fontes de Financiamento – O acesso dos empresários à fontes de financiamento no Brasil para investir no seu negócio ainda tem muito a melhorar. Os juros já atingiram o patamar internacional com a queda que sofreram nos últimos sete anos mas o processo de aprovação do crédito num banco de investimento governamental ou banco privado é lento e difícil pelas exigências de garantias.
Legislações Tributárias e Trabalhistas – São ambas de arcabouço muito complexo e custoso no Brasil. As obrigações trabalhistas e tributárias no Brasil são fatores que impactam a competitividade de fornecedores. É preciso estuda-las e conhece-las bem. Já houve uma reforma trabalhista no Brasil em 2014 que atenuou em algum grau o impacto da contratação formal de pessoal para um empregador mas a Reforma Tributária ampla é agora uma necessidade imperiosa.
Cadeia Logística para matéria prima e exportações – O custo desta cadeia é muito alto no Brasil, encarecendo produtos e diminuindo competitividade. O modal de transporte preferencial é o caminhão e não há infra-estrutura desenvolvida de redes ferroviárias. Agora, com a privatização dos aeroportos, teremos um alento em termos de Logística.
Regulação de Conteúdo Nacional – Já foi extremamente rígida e irreal, encarecendo a fabricação e a gestão de mega projetos para exploração e produção. Houve uma revisão em 2018 com a Regulamentação 726 mas até agora parece que não se chegou ao ponto de equilíbrio ideal entre a percepção do Governo e das Entidades de Classe representativas dos fornecedores. É outro ponto de atenção para fornecedores estrangeiros interessados em se estabelecer no país. Detalhes sobre as exigências de Conteúdo Local podem ser obtidos diretamente dos textos dos Contratos de Concessão ou de Partilha quando o Edital de Chamada Pública é liberado pela ANP. Mais informações sobre a legislação de Conteúdo Local no Brasil. Consulte Português (Brasil) (www.gov.br)
Desafios à Competitividade e Inovação frente à necessidade de passar
à fase da Indústria 4.0
Este aspecto, crucial para a competitividade, fica prejudicado pelos aspectos das dificuldades de cada segmento que abordamos acima. Além disso, em função dos dois anos da Pandemia, 2020 e 2021, e da decisão da Petrobras que, desde 2016 optou pelo modelo de afretamento de plataformas para suprir as necessidades do Pré Sal, a indústria de bens e serviços se distanciou muito do nível atual de competitividade do mercado global por falta de encomendas significativas.
Além disso, a implantação dos conceitos e fases da Indústria 4.0 exige alguns pre-requisitos dos empresários: capital de investimento, ausência de conhecimentos de conceitos sobre a Indústria 4.0 e contratação de uma empresa especializada (Fundação de uma Universidade) para coordenar o processo e as fases da implantação. Os maiores benefícios visualizados pelos empresários com a 4.0 são: melhoria de processos, ganhos de qualidade total, redução de mão de obra e redução de custos. Eles estão cientes de que o aporte em novas tecnologias é significativo. Mas o maior desafio à implantação da Indústria 4.0 no Brasil é convencer as Diretorias das Empresas de que o tema é importante.
Várias instituições de ensino e Fundações Universitárias já estão oferecendo cursos neste assunto, mas o movimento de nossa indústria é lento. Mais uma área para oportunidades de parcerias entre fornecedores nacionais e estrangeiros. Temos insistido em que essas parcerias são o melhor caminho para o desenvolvimento e conquistas de posições de mercado, privilegiando uma relação Ganha Ganha.
Cadastro de Fornecedores da PETROBRAS
Para um fornecedor desta indústria, fazer parte do Cadastro da Petrobras é uma espécie de sêlo de excelência. Isto porque o processo de cadastramento é bastante rigoroso, envolvendo a análise dos aspectos Financeiros, Técnicos e Legais. Para provedores de serviços existem também os requisitos de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Hoje o total de fornecedores cadastrados na Petrobras é de cerca de 8.500.
Recomendamos a todos os provedores de bens e serviços, nacionais ou estrangeiros interessados em ingressar no mercado de petróleo e gás no Brasil, a procederem ao processo de Cadastramento na Petrobras. O processo é totalmente eletrônico, feito a partir da Home-Page da PetroNect (empresa subsidiária da Petrobras para procurement eletrônico e contratações). Não é um processo simples devido ao grau das exigências, mas a própria empresa mantém um Call Center para orientar as empresas interessadas quanto aos documentos necessários e navegação no sistema.
Energias Renováveis
Esta área é um campo aberto para a realização de parcerias, inserção de novas empresas brasileiras ou estrangeiras e sem dúvida tem um belo futuro pela frente. Falta verdadeiramente, desenvolver uma indústria brasileira para esse segmento e isso caracteriza uma oportunidade para que essa indústria já surja dentro dos melhores conceitos de modernidade. Aqueles que chegarem primeiro sempre sairão em vantagem. A demanda por projetos hoje é pequena mas com tendência de crescimento expressivo no futuro.
È importante frisar que, na última versão de seu Plano Estratégico (versão apresentada aqui em nossa página) a PETROBRAS decidiu não mais investir ou desenvolver tecnologias voltadas à Energias Renováveis, afastando-se da Visão apresentada em 2000 onde fazia a opção para ser uma Empresa Integrada de Energia. Agora, considerando-se a intenção de se desfazer de refinarias importantes, de sair da cadeia do gás natural e de não apresentar iniciativas em Renováveis, a empresa foca totalmente no Pré Sal e volta a ser uma empresa de óleo cru e, agora, focalizada no Sudeste do Brasil.
Conclusão
O Brasil apresenta um leque de boas oportunidades para empresas estrangeiras interessadas em se iniciar na Indústria de Óleo e Gás no país. Entretanto, como em qualquer outro país, o Brasil apresenta um conjunto de leis e regulações que deve ser cuidadosamente estudado e entendido. Tributação, leis trabalhistas, legislação de Conteúdo Local e regulações diversas da indústria de petróleo e gás são os principais documentos. Nossa empresa pode prover o suporte à empresas estrangeiras de modo a facilitar esse entendimento em curto espaço de tempo. No caso da empresa nacional ou estrangeira desejar conduzir uma avaliação das diversas oportunidades brasileiras no segmento de Energia tenha em mente que a sua empresa estará em contato com os melhores e mais experientes profissionais do mercado e que este trabalho conjunto será uma grande e recompensadora experiência.
